3dez |
O Todo-Poderoso fez-se todo-debilidade
|
O Império Romano havia atingido um auge de progresso, mas também se afundara num abismo de decadência moral. E o mundo civilizado não encontrava solução para seus problemas. Um frágil Menino veio trazer a luz à terra.
Clara Isabel Morazzani
Muito se tem falado da grandeza e do esplendor da antiga Roma… e não sem razão. Basta fazer uma rápida visita à Cidade Eterna, percorrer os foros, admirar as gigantescas ruínas das Termas de Caracalla, contemplar por alguns momentos o Coliseu ou parar diante do famoso Pantheon, cujas proporções arquitetônicas deixam extasiados os especialistas modernos, para dar-se conta dos inúmeros dons de inteligência e organização com os quais foi aquinhoado o povo romano. Soube ele fazer uso de suas capacidades naturais. Unindo ao espírito empreendedor uma rara subtileza, impôs-se às outras nações, quase todas afundadas na completa barbárie, e instalou uma civilização a seu modo: floresceram o cultivo dos campos e a criação de rebanhos, surgiram as construções sólidas, as cidades populosas, as estradas seguras. A pax romana estendeu- se por toda parte, até os extremos limites do Império. Olhando para o caminho percorrido, os romanos podiam sentir uma compreensível ufania por ter atingido um auge de cultura, riqueza e poder.
O egoísmo era a lei que regia as ações do homem
Contudo, a realidade desse quadro – pintado por alguns entusiastas como Sêneca, Plinio e Plutarco – aparece- nos bem diferente ao considerarmos, em seus detalhes, a decadência social e moral do mundo romano de então. Por debaixo de todos aqueles esplendores latejava uma profunda miséria. Roma tornara-se, não a rainha, mas a tirana da humanidade.
Em toda parte acentuava-se o contraste entre a riqueza e a indigência, bem como o domínio despótico do forte sobre o fraco. O egoísmo era a lei que regia as ações do homem.
Por outro lado, uma imensa corrupção dos costumes se alastrava por todo o território dos césares. A existência dos cidadãos livres decorria numa ociosidade propícia a todos os vícios, na procura desordenada do luxo e dos prazeres. As crônicas da época nos descrevem algumas das diversões que tanto atraíam as turbas: orgias, corridas, lutas de gladiadores, comédias. O que mais agradava àquele povo embrutecido era ver correr o sangue humano; com freqüência, ele se mostrava exigente com os imperadores, se o espetáculo não era suficientemente sanguinário para causar-lhe o delírio.
Para compreender o estado de degradação e imoralidade em que soçobrava a sociedade antiga, basta lembrar a epístola de São Paulo aos romanos, na qual o Apóstolo recrimina os escândalos e abusos aos quais eles chegaram, por não terem procurado chegar a Deus através das criaturas.
Todos buscavam a felicidade onde ela não podia ser encontrada
Esta situação criava na Ásia, na África e na Europa uma atmosfera irrespirável. Tudo quanto os homens haviam desejado e conquistado deixava- lhes na alma um terrível vazio e até um pavoroso tormento. Nada conseguia acalmar seus apetites desregrados; corriam atrás da felicidade, mas buscavam-na onde ela não se encontrava e ao julgar havê-la achado, constatavam que ela não podia saciá-los. Todos sentiam pairar uma grande crise que ameaçava terminar numa ruína inevitável. Assim, o quadro das nações aparecia mergulhado em densas trevas e a História estava, por assim dizer, parada na muda expectativa de uma solução para tantos problemas.
Não faltavam, entretanto, almas boas que manifestavam sua inconformidade ante todos esses desvarios e conservavam uma vaga reminiscência da promessa, transmitida por Adão e Eva ao saírem do Paraíso, da chegada de um Salvador.
De onde poderia vir esse Esperado das nações? Acaso seria um sábio ou um potentado? Ou um príncipe, um general dotado de poder e força extraordinárias, capaz de dominar sobre toda a humanidade? Todos os olhos estavam ansiosamente à procura de alguém do qual pudesse vir o socorro…
O reino da graça, da bondade e da misericórdia
E eis que Deus, confundindo a sabedoria e a ciência deste mundo, mostrou-Se aos homens da forma como estes menos podiam imaginar: um bebê tenro, frágil, comunicativo, deitado sobre as palhas de uma manjedoura, sorrindo!
Ali, no fundo de um estábulo, na humilde cidade de Belém, está reclinada a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, feita Menino para Se colocar à nossa altura e à nossa disposição. Ele não vem convocar soldados, nem impor jugos, nem exigir tributos; não Se manifesta sob os fulgores da justiça punitiva que se revelara no Antigo Testamento. Pelo contrário, esse Deus todo-poderoso faz-se todo-debilidade, a marca da realeza repousa agora sobre os ombros de um encantador Recém-Nascido que abre graciosamente os braços e parece dizer, por entre seus infantis vagidos, o que mais tarde anunciará a todas as gerações: “Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Mt 9, 13). Sim, é um reino que Ele vem implantar, mas este será o reino da graça, da bondade e da misericórdia.
Oh! que a humanidade inteira, cansada e sobrecarregada pelo peso de seus pecados, venha prostrar-se diante desse esplêndido presépio no qual se encontra não só o feno dos animais, mas também o alimento dos Anjos! Que o homem velho se despoje das ações das trevas e corra para adorar, enternecido, a Divina Criança que lhe traz a luz!
No meio da noite escura e fria, um mundo novo começa a surgir em torno da sagrada gruta onde vela José abismado em profundo respeito, ora Maria em maternal contemplação e dorme o Menino em paz celestial…
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 20-21)
Tags:
|
0 |
3dez |
Eternidade feliz
|
Evangelho:
1 No princípio existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. 2 Estava no princípio com Deus. 3 Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada foi feito. 4 N’Ele estava a vida, e a vida era a luz dos homens; 5 e a luz resplandeceu nas trevas, mas as trevas não O receberam. 6 Apareceu um homem enviado por Deus que se chamava João. 7 Veio como testemunha para dar testemunho da luz, a fim de que todos cressem por meio dele. 8 Não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. 9 O Verbo era a luz verdadeira, que vindo a este mundo ilumina todo o homem. 10 Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não O conheceu. 11 Veio para o que era seu, e os seus não O receberam. 12 Mas a todos os que O receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus; 13 eles que não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus. 14 E o Verbo fez-se carne, e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15 João dá testemunho d’Ele e clama: “Este era Aquele de Quem eu disse: O que há de vir depois de mim é mais do que eu, porque existia antes de mim”. 16 Todos nós participamos da sua plenitude, e recebemos graça sobre graça; 17 porque a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo. 18 Ninguém jamais viu a Deus; o Unigênito de Deus, que está no seio do Pai, Ele mesmo é que O deu a conhecer (Jo 1, 1-18).
É uma lei da História, Deus sempre encontrou uma solução superior aos seus planos anteriores, ao serem estes frustrados pela incorrespondência das criaturas. Como contemplar o Natal sob o prisma dessa constância do proceder divino? Acompanhemos os comentários da Liturgia de hoje.
Mons. João Clá Dias, EP
I – FRUSTRADO O PLANO DE DEUS?
As autênticas obras de arte levam seus autores a com elas se encantarem logo após o último retoque. O grande Michelangelo foi um exemplo pitoresco ao contemplar seu famoso “Moisés”. A escultura se apresentou diante de seus olhos com tanta realidade que arrancou de seu italianíssimo coração a célebre exclamação: “Parla! Perche non parla?” Sim, só faltava falar aquela bela figura lavrada em mármore. Mas, para tal, era preciso uma arte ainda mais requintada, a de poder transmitir-lhe a prória vida. Todavia, Michelangelo nada pôde fazer nesse sentido, a não ser, cheio de emoção, desferir um golpe de martelo no joelho da estátua, produzindo-lhe a marca que ainda hoje pode ser vista.
Esse episódio nos faz recordar outro semelhante e mais antigo, o do insuperável e perfeitíssimo boneco de barro. Modelado com precisão absoluta, seu Autor se encantou ao contemplá-lo e, sendo infinitamente mais capaz do que Michelangelo, com um simples sopro, infundiu-lhe a vida humana: “O Senhor formou, pois, o homem do barro da terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e o homem se tornou um ser vivente” (Gen 2, 7). E se isso não bastasse para consagrar a onipotência de Deus, determinou Ele também a criação de Eva: “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem” (Gen 2, 21-22).
Assim, criou-os na graça, além de infundir-lhes especiais dons e virtudes.
Mas nossos primeiros pais usaram mal do livre-arbítrio, desobedeceram. Por isso perderam todos os privilégios sobrenaturais, foram expulsos do Paraíso e, com seus descendentes, condenados a retornar ao pó do qual haviam se originado: “Comerás o pão com o suor de teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e em pó te hás de tornar” (Gen 3, 19).
À primeira vista pareceria estar irreversivelmente frustrado o plano de Deus, sua obra marcada pela feiúra.
Como reviver aquela alegria diária, “do Senhor Deus que passeava no jardim à hora da brisa da tarde” (Gen 3-8) com aquele varão, o fruto de sua onipotência? Escolher um barro melhor e elaborar um outro ser mais inclinado à obediência? Recomeçar da estaca zero, no fundo, seria assumir o fracasso. Indispensável era encontrar uma solução superior, bela e muito mais eficaz do que o próprio plano anterior. O que para os homens é impossível, para Deus é possível, conforme afirma Mateus (vv.19, 26).
II – DIVINA SOLUÇÃO PARA UM PROBLEMA INSOLÚVEL
Aproximemo-nos da manjedoura na gruta em Belém e contemplemos um Menino reluzente de vitalidade, sabedoria e graça. A diplomacia divina não podia haver elaborado melhor forma para remediar todos os males trazidos pelo pecado. Um Homem-Deus…
Esse é o fundo de quadro de grandiosidade do Evangelho de hoje: “A todos que O receberam, àqueles que crêem no seu nome, deu poder de se tornarem filhos de Deus; eles não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (vv. 12-13).
Excelente tema para se considerar nesta festa de Natal: um Menino adorável, Deus e Homem verdadeiro, com todas as fragilidades de uma criatura, porém unida hipostaticamente ao Onipotente.
Aí está o Menino Redentor que naquela Noite Feliz nos abriu não só os braços mas – e sobretudo – a possibilidade de termos uma participação em sua divina natureza. Quão extraordinário é para nós esse dom! Apliquemonos em compreendê-lo melhor.
A Redenção nos tornou filhos de Deus
Estamos habituados a conferir o título de filho de Deus a qualquer pessoa a ponto de constituir, talvez, uma certa ofensa em negá-lo a quem quer que seja. Mas esta atitude não passa de um profundo equívoco, pois os não-batizados são puras criaturas, e não filhos de Deus. Da mesma forma que não posso afirmar serem os móveis filhos do marceneiro que os produziu, pois dele não receberam a natureza humana, assim também não se pode dar o título de filho de Deus a uma pessoa que não participa da natureza divina.
Pois, para ser filho, necessita-se ter a mesma natureza do pai; por isso os filhos dos coelhos chamam-se coelhos, e os dos homens são homens. E os filhos de Deus devem ser “deuses” como Ele o é.
Ademais, as capacidades de toda criatura sempre estão em proporção de sua respectiva natureza. Por exemplo, o colibri tem as aptidões que lhe são próprias, e ignorância consumada seria dar-lhe para resolver um problema de álgebra ou de simples aritmética. Assim também, são puramente humanas as forças do homem, nunca divinas.
Ora, o prêmio deve estar proporcionado aos predicados de quem o mereceu. Jamais seria adequado conceder a um corcel, por sua agilidade e capacidade físicas, um prêmio intelectual, pois, não só ele não o entenderia, como seria um verdadeiro absurdo. Da mesma forma, todos os prêmios conquistáveis pelo homem, devido à sua natureza própria, nunca poderiam ser divinos, são sempre puramente humanos.
Esta é a razão pela qual o Céu não se obtém pelos esforços, nem sequer da natureza angélica. Por mais que nos fosse dado praticar todos os Mandamentos da Lei de Deus, jamais poderíamos, por nós mesmos, entrar no Céu, pois, a essência deste consiste em ver Deus face a face, e só as três Pessoas da Santíssima Trindade possuem esse privilégio desde toda eternidade e por toda eternidade.
É justamente no Presépio que se encontra representado o retorno da vida sobrenatural para nós. Ali está Quem não só nos abriu as portas do Céu, mas também nos elevou à categoria de filhos de Deus.
Deu início à era da graça
Não há no vocabulário humano palavras para exaltar suficientemente as incontáveis e preciosas maravilhas a nós concedidas naquela Noite Feliz.
Na ordem dos seres criados podemos encontrar certas analogias ilustrativas, para melhor nos fazer compreender essa infusão divina de que ora tratamos. Uma barra de ferro submetida numa forja a altas temperaturas, não tardará em tornar-se incandescente. Segundo comenta São Tomás de Aquino, a barra, sem deixar de ser ferro, adquirirá todas as propriedades do fogo; exemplo, portanto, de como, pela graça, Deus diviniza nossas almas. São Boaventura serviu-se da figura de um vitral iluminado pelo sol para nos explicar a mesma realidade sobrenatural. O que é o vitral sem os raios de luz – pergunta ele – e o que somos nós sem a graça?
Outros autores se basearam em exemplos oriundos do reino vegetal para nos tornar acessível uma certa idéia sobre esse tão rico fenômeno sobrenatural. Assim, enxertando-se um ramo de laranjeira num pé de romã, as laranjas nascerão com todas as suas características próprias e, ademais, terão a coloração e o sabor da romã. Também Deus, por meio de um insuperável enxerto da graça em nós, eleva- nos a participar de sua natureza divina.
Esse inefável milagre se inicia no Presépio, em Belém. É o mistério da Redenção: nossos pecados podem ser perdoados e, isentos de toda culpa, somos reintegrados à ordem sobrenatural.
Amou-nos como irmãos
Fixemos nosso olhar nesse Menino que se encontra reclinado na manjedoura de Belém e contemplemos Aquele no qual “foram criadas todas as coisas (…) tudo foi criado por Ele e para Ele” (Col 1, 16).
Essas afirmações contidas na Revelação pela lavra de São Paulo Apóstolo, pedem um aprofundamento: “Por Ele” quer dizer que o Menino Deus foi o Criador. “Para Ele”, ou seja, tudo o que existe – e em especial os seres inteligentes – têm a obrigação de glorificá-Lo. “N’Ele”, significa que Ele serviu de modelo para a nossa criação.
“Noite feliz, noite feliz! O Senhor, Deus de Amor, pobrezinho nasceu em Belém. Eis, na lapa, Jesus, nosso Bem. Dorme em paz, ó Jesus”. Serão as palavras que ouviremos repetir-se neste Natal, na evocativa melodia do “Stille Nacht”, um tocante raio de paz em meio aos dramas e preocupações dos dias atuais.
“Deus de amor”, Ele sempre o foi e jamais deixará de sê-lo. Esse amor é eterno como o próprio Deus. “Amo-te com amor eterno” (Jr 31, 3). Gozando de uma felicidade perfeita e infinita, não tinha Ele necessidade do homem nem dos Anjos. O amor O levou a tirar do nada inúmeras criaturas, concedendo-lhes a possibilidade de participarem de sua Vida. Foi por essa razão que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (v. 14), mas a Encarnação foi apenas o primeiro passo em sua via de dileção por nós. Ele se fará nosso companheiro de todos os dias, o amigo de nossa existência. Esse amor, sendo pertinaz, não se satisfez e desejou elevar-nos à categoria de sermos seus irmãos.
E que fez Ele para tal?
Homem de nosso sangue e nossa raça
Deus não moldou outro boneco de barro como para o primeiro Adão. Se assim tivesse procedido, Ele não teria o nosso sangue, não pertenceria à nossa família, não seria nosso irmão. Apesar de sua geração não ter se dado de forma idêntica à nossa, entretanto Ele foi concebido por uma mulher, e dela nasceu. Mulher bem-aventurada entre todas, santa e imaculada, única e cheia de graça, virgem e mãe, mas enfim, filha de Adão. Por isso Jesus, além de verdadeiro Filho de Deus, é também Filho do Homem, de nosso sangue e de nossa raça. Esta é a razão pela qual, no decurso de sua vida, Ele se fez reconhecer por estes dois títulos, pois, se pelo primeiro deles Jesus se identificava com o próprio Deus, pelo segundo, aproximava seu Sagrado Coração do nosso.
Porém, sendo Ele “Deus verdadeiro, de Deus verdadeiro, gerado e não criado, consubstancial ao Pai”, pareceria mais segundo a lógica escolher um corpo glorioso proporcionado à sua alma que sempre esteve no pleno gozo da visão beatífica. Esse corpo deveria estar isento das dores, sofrimentos e contingências tão comuns pobres mortais, filhos de Eva. Seria mais compreensível que o esplendor da majestade marcasse suas exterioridades – tal qual imaginavam e desejavam os judeus -, um Messias triunfante, dominador sobre todos os povos. Renunciou a todas essas glórias e, nessa Noite Feliz, vemo-Lo um Bebê num estábulo, conforme nos descreve Bossuet:
“‘Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura’ (Lc 2, 12). Vós conhecereis por esse sinal que Esse é o Senhor. Ides à corte dos reis, vós conhecereis o príncipe recém-nascido por suas colchas recamadas de ouro e por um soberbo berço, o qual bem poderia ser um trono. Mas, para conhecer o Cristo que vos nasceu – esse Senhor tão elevado que Davi, seu pai, apesar de ser rei, O chama de ‘seu Senhor’ – não vos será dado outro sinal senão o da manjedoura, na qual se encontra deitado, e dos pobres panos nos quais está envolta sua débil infância. Ou seja, não Lhe foi dada senão uma natureza semelhante à vossa, debilidades como as vossas, uma pobreza abaixo da vossa. Quem de vós nasceu numa manjedoura? Quem de vós, por mais pobre que seja, dá a seus bebês uma manjedoura por berço? Jesus foi o único que se via colocado nessa situação extrema, e é sob esse signo que deseja ser conhecido. Se Ele quisesse se servir de seu poder, que ouro coroaria sua fronte! Que púrpura brilharia sobre seus ombros! Que pedrarias enriqueceriam suas roupas!” (1)
E foi por causa dessas aparências que os pastores reconheceram haver nascido “na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o Senhor” (Lc 2, 11). “E nós vimos a sua glória, glória como de Filho Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (v. 14). “Ninguém jamais viu a Deus; o Unigênito de Deus que está no seio do Pai, Ele mesmo é que O deu a conhecer” (v. 18).
Eis mais um incomensurável benefício dessa Noite Feliz: Jesus nos facilita e nos conduz a conhecer a Deus.
Deus se torna acessível e imitável
Ensina-nos a Filosofia nada existir em nossa inteligência que não tenha antes passado pelos sentidos. Daí uma grande dificuldade em conhecermos a Deus. As próprias parábolas do Divino Mestre procuram involucrar as doutrinas em figuras e imagens, para tornar acessível ao espírito humano a assimilação de um universo de princípios éticos, morais e religiosos. O homem necessita do conhecimento concreto para compreender o espiritual. A Epístola de hoje nos revela o grande milagre realizado pela Providência, naquela Noite Feliz:
“Deus, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos aos nossos pais pelos profetas, nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio de seu Filho” (Heb 1, 1-2).
Percorramos todos os conselhos e considerações descritos no livro da Sabedoria, ou no Eclesiástico, e veremos nada se comparar com a contemplação do Menino-Deus reclinado no Presépio. Deduzir as aplicações decorrentes da Lei Moral escrita numa pedra, não é fácil para o espírito humano e, menos ainda, conceber a imagem de Deus. Entretanto, ao fazer-se homem, Deus se tornou acessível e imitável.
Na mais feliz noite da História, os atributos de Deus se tornaram menos impenetráveis para nós. Jesus, além de externar a grandeza de sua onipotência, elevando o homem à divinização pela graça, pôde dizer- se impecável: “Quem de vós poderá argüir-me de pecado?” (Jo 8, 46). Só n’Ele foi possível contemplar a grandeza absoluta na inteira harmonia com a plenitude da despretensão e humildade.
Essas dádivas todas começaram seu curso na Gruta de Belém, trazidas pelo Menino-Deus, coberto não só pelo estrelado manto da noite, mas também por um véu de mistério. Ele padece frio, chora e, entretanto, é supremamente feliz. Frágil e quase um indigente, porém, está redimindo o mundo inteiro. Não está ainda na plenitude do uso de seus sentidos, mas regala-se no gozo da visão beatífica. Tudo isso “porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito, para que todo aquele que n’Ele crer não pereça mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
III – ADOREMOS AQUELE QUE NOS AMOU E REDIMIU
Nessa bem-aventurada noite, ao nos depararmos com um Menino e Deus ao mesmo tempo, ternura e veneração se unem em nossas almas num ato de adoração Àquele que nos criou e nos redimiu. A consideração da grandeza dadivosa desse amor divino que assume as insuficiências de nossa natureza, predispondo-se a tudo sofrer, sacrificando- se até a morte de cruz pelo desejo de nos fazer bem, arranca de nós – apesar de nossa maldade – os maiores atos de gratidão e de reciprocidade. Aquela criança indefesa crescerá e, quando adulta, manifestará sua benquerença por todos, percorrendo praças e ruas das inúmeras cidades de seu país, curando os enfermos, restituindo o caminhar aos paralíticos, a voz aos mudos, a audição aos surdos, a vida aos cadáveres. Sempre se reportando ao Pai, sem jamais deixar de perdoar a quem quer que se arrependesse de seus pecados, doce e afável com seus discípulos, nunca saiu dos limites de sua pobreza e humildade.
IV – CONCLUSÃO
“João dá testemunho d’Ele e clama: ‘Este era aquele de Quem eu disse: O que há de vir depois de mim é mais do que eu, porque existia antes de mim. Todos nós participamos de sua plenitude, e recebemos graça sobre graça; porque a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade foram trazidas por Jesus Cristo'” (vv. 15-17).
Com os olhos postos no Menino Jesus, e pela intercessão de Maria e José, agradeçamos os incontáveis benefícios descidos e infundidos sobre nós a partir daquela “Beata Nox”, e imploremos a graça da santidade. Assim, livres de todo pecado, passemos não só uma noite, mas uma Eternidade Feliz.
(Revista Arautos do Evangelho, Dezembro/2004, n. 36, p. 7 à 11)
Tags:
|
64 |
3dez |
Que estranha aquela noite!
|
Revelando profundo estro poético, Dom Lucio Renna canta os sublimes mistérios e alegrias daquela noite santa quando Deus Filho nasceu neste mundo, tornando-Se nosso irmão.
Dom Lucio Angelo Renna, O.Carm.
Bispo de Avezzano (Itália)
Que estranha aquela noite! Após uma jornada cheia de acontecimentos, de gritos, de cantos, de orações, de encontros entre pessoas provenientes de diversos países para serem recenseadas, após um barulho ensurdecedor, ruídos ininterruptos e insuportáveis, após tantas e tantas coisas que a mais ardente fantasia nunca conseguiria imaginar, após tudo isso um estranho silêncio, profundo, arcano, misterioso.
Parecia que o universo parara, que as criaturas de repente decidiram calar-se. Era como se a respiração do mundo criado cessasse, voluntária e obstinadamente.
Que estranha aquela noite, cheia de fascínio, de magia, de expectativa, de mistério! Nenhum balir de ovelha, nenhuma voz de homem, de mulher ou de criança, nenhum sinal de vida: parecia que um torpor universal
Que estranha aquela noite! Após uma jornada cheia de acontecimentos, de gritos, de cantos, de orações, de encontros entre pessoas provenientes de diversos países para serem recenseadas, após um barulho ensurdecedor, ruídos ininterruptos e insuportáveis, após tantas e tantas coisas que a mais ardente fantasia nunca conseguiria imaginar, após tudo isso um estranho silêncio, profundo, arcano, misterioso.
Que estranha aquela noite na qual o Filho de Deus nasceu, pobre entre os mais pobres, em tudo semelhante aos homens, exceto no pecado! No calor, na cor, nos cânticos, no gáudio imenso daquela estranha noite não foram poucos os que notaram sobre a manjedoura a sombra – inicialmente escura e depois cada vez mais luminosa – de uma cruz.
Parecia que o universo parara, que as criaturas de repente decidiram calar-se. Era como se a respiração do mundo criado cessasse, voluntária e obstinadamente.
Que estranha aquela noite, cheia de fascínio, de magia, de expectativa, de mistério! Nenhum balir de ovelha, nenhuma voz de homem, de mulher ou de criança, nenhum sinal de vida: parecia que um torpor universal pesava sobre as coisas, as plantas, os animais, as pessoas. Aqui e ali se podia perceber alguma janela fracamente iluminada.
No céu brilhavam, silenciosas, muitas e muitas estrelas. Nos casebres dos pobres, as crianças estranhamente não choravam. Nos suntuosos palácios dos poderosos, não se ouviam sons, cantos, danças: pareciam envolvidos por uma austera e severa capa de silêncio, como nunca nenhum israelita podia ter memória.
“O que está para acontecer?” – perguntava-se um ou outro, espiando curioso e ansioso pela fresta da porta de sua casa.
“É estranho, estranho, estranho!” – sentenciava o velho sábio, rodeado de meninos e meninas desejosos de saber sobre os Vaticinadores, os Profetas, os Patriarcas, o Messias que nunca chegava, apesar de sua secular invocação: Maranatha, maranatha.
Tudo, em suma, parecia ter-se fechado e adormecido por encanto. E como que para não perturbar o silêncio, o velho sábio, naquela noite, falava brandamente, muito brandamente.
Que estranha aquela noite: quase ninguém conseguia adormecer!
Intuía-se um acontecimento. Mas qual? O que estava para acontecer? Onde? Tais perguntas esvoaçavam delicadamente no ar e nos corações de todos, ao longo daquela estranha noite.
Os sacerdotes do Templo rezavam com o coração, porque também eles temiam perturbar, salmodiando, o silêncio daquela estranha noite. Se algum deles, cansado, inclinava sonolento a cabeça, era de súbito sacudido por uma força misteriosa. Todos estavam em ansiosa espera, mas ninguém sabia do que ou de quem.
Que estranha aquela noite!
Depois, como chegando de um longo, interminável caminho de séculos, todos perceberam, claro, distinto, o choro de um recém-nascido.
Como ao aceno de invisível maestro, explode a sinfonia do universo! Entrelaçam-se vozes de anjos, de homens, de animais. Até as árvores da floresta se unem, com os cetáceos e os peixes, àquele canto que não se podia saber bem se descia do céu ou para lá subia.
Somente após o primeiro momento de maravilhamento, de admiração e de júbilo universal, todos compreenderam que os anjos do Céu queriam cantar em coro com todas as criaturas, com o universo criado. Cantavam as surpresas e maravilhas do Senhor, o qual, naquela estranha noite, tinha dado à humanidade o seu Filho Unigênito, nascido da Virgem Maria numa obscura aldeia da Palestina de belíssimo nome: Belém, casa do pão.
Nascera o Esperado prometido e todos estavam convidados a encontrar- se com Ele. Pedia-se tão-só a simplicidade e a pureza da mente e do coração para contemplar, no menininho da manjedoura, o Messias.
Naquela estranha noite ouviam-se apenas cantos de alegria.
Ninguém implorava mais: maranatha. Todos sabiam que o Verbo tinha-Se tornado o Emanuel; que Deus, tinha descido do Céu à nossa terra; que doravante todos os acontecimentos da História seriam datados de antes ou depois do inaudito evento do nascimento de Cristo.
O mundo parecia estupefato, percorrido por grande alegria, inundado por grande luz. Nunca as estrelas, brilhantes e belas, tinham sido vistas tão resplendentes; a mais luminosa foi chamar os magos do Oriente.
Naquela estranha noite, de vários pontos da Palestina, puseram-se a caminho diversos grupos, em geral de pastores, todos caminhando para uma gruta da qual se irradiava o esplendor de inefável luz. Os corações simples ouviam o canto dos anjos, que louvavam a Deus e auguravam paz aos homens de boa vontade.
Os sacerdotes do Templo, perpassados por um arrepio interior, compreendiam que estava para se iniciar a era nova da História. Os velhos sábios empurravam as crianças, os jovens e os adultos para Belém. Alguns deles, mais anciãos e cansados que os outros, ficavam em seus casebres, tristes por não terem a força física para se unirem aos peregrinos. Todos os outros entravam na fila felizes, sem sentir cansaço algum no caminho para Belém.
Os jovens cantavam e dançavam como nunca o haviam feito, porque vibravam de uma alegria indizível, profunda, ao aproximar-se da meta de todos naquela estranha noite.
Um ou outro, desconfiado e invejoso, resistia à força misteriosa e, em sua casa, nutria em si sentimentos tenebrosos e contestatários que lhe impediam de participar da alegria do universo, considerando em risco sua própria situação social e econômica.
Dos grandes abrigos de caravanas partiam também muitos senhores com seus camelos, dromedários, cavalos e modestas mulas, seguindo a estrada iluminada pelas estrelas naquela estranha noite que resplandecia como sol em pleno dia.
Na gruta, Maria de Nazaré, a Virgem- Mãe, contemplava extasiada aquele delicado bebê no qual adorava seu Deus. Seus olhos estavam fixos nos d’Ele. Falavam- se, Mãe e Filho, na silenciosa linguagem do amor. Ela, a filha de Sião, tinha nos olhos a ansiedade, a alegria, a gratidão, a esperança do povo de Javé, acumuladas no decurso dos séculos.
Por meio de seu olhar parecia que se dirigiam para a manjedoura os olhares de inumeráveis pessoas, de todas as idades e classes sociais, que tinham implorado, suplicado, espreitado a vinda do Esperado. Em Maria, todos tinham a resposta da parte de Deus: nasceu Jesus! O Menino, movendo as perninhas, chorando, sorrindo assegurava à Mãe: eis-Me aqui, estou contigo, estou convosco.
Também José contemplava e entrevia, com os olhos da fé, na penúria da gruta, o dom inefável, imenso, infinito de Deus. E rezava, enquanto, com gestos afetuosos e desajeitados, prestava ajuda a Maria!
A gruta, nesse ínterim, tornava-se tão grande quanto o mundo. Muitos e ainda muitos outros aí chegavam, cantando: “Descestes das estrelas, ó rei do Céu”; e ofereciam toda espécie de presentes.
No cruzamento das traves, sobre aquela manjedoura, vagia, sorria, chorava o Menino Jesus. Que estranha aquela noite que, fazendo uma reviravolta na História da humanidade, deu início à era da salvação!
(Publicado originalmente no livro “Confidenzialmente a Maria”, com o título “Che strana quella notte”.)
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2005, n. 48, p. 36-37)
Tags:
|
27 |
2dez |
Adorando Jesus no Presépio
|
Bem junto ao Presépio, adorando o Menino Jesus, em companhia de Maria e José, encontramos a solução para a febricitação que se instalou na Humanidade após o pecado original. O homem passou a sentir um incontrolável anseio de ser igual a Deus: “Sereis como deuses” (Gn 3, 5). Aí está o Deus-Menino que Se fez igual a nós para podermos ser iguais a Deus. Veio disposto a dar sua própria vida até a última gota de sangue, e assim elevar às alturas da divindade a nossa natureza decaída.
Por Ele, com Ele e n’Ele, abriu-se para nós a possibilidade de participar da divindade. De joelhos, ao Menino roguemos neste Santo Natal, pela poderosa intercessão de Maria e José, as melhores graças para alcançar a plenitude da santidade e nos fazermos, assim, seus irmãos por adoção, na mesma divina natureza
Presépio da Igreja de San Benedetto in Piscinula, Roma
Tags:
|
25 |
2dez |
O primeiro olhar de Jesus
|
A quem, Senhor Deus menino,
Dirigir vosso primeiro olhar?
A quem, senão ao rosto quase divino
Da criatura vossa mais perfeita,
A primeira a Vos contemplar:
Vossa Mãe que nos braços Vos estreita
Junto a seu Imaculado Coração,
No ato mais sublime de adoração?
Natal é Deus excelso feito menino,
Deus imenso contido na manjedoura,
Acessível a nós, acolhedor, pequenino.
É a Inocência em missão redentora.
É Deus eterno vivendo no tempo,
Criador de tudo, nascido ao relento,
Olhos humanos, vendo o invisível!
Ó condescendência incompreensível!
Exultemos! O Rei da Glória é nosso irmão:
Sua Mãe é também nossa, na pessoa de João!
Mil coisas antes inexcogitáveis
Tornaram-se agora indagáveis!
Senhora, não Vos surpreende a semelhança
Que Jesus quis ter convosco, por herança?
Senhor, não Vos surpreende a graciosidade
De vossa Mãe, que mais parece uma divindade?
Ao contemplar vosso próprio rosto
Nesse espelho criado a vosso gosto
Para refletir em seu imenso conjunto
Todas as vossas infinitas perfeições,
Dizei-nos quais sentimentos e afeições
Experimentam vossos corações tão juntos,
Olhando-se enlevados e querendo-se bem
Como jamais alguém quis alguém!
Amor materno jamais houve tão ardente!
Filho algum amou sua mãe tão plenamente!
Como se algo no Céu Vos faltasse,
Deus fez da Virgem vosso Paraíso
Para que Ela tanto Vos deleitasse
Que o exílio fosse vantagem, não prejuízo!
Para surpreender-Vos no primeiro olhar,
Deus só não fez vossa Mãe mais perfeita
Porque mais perfeição seria Vos igualar!
Dissestes que vossas delícias consistem
No convívio com os filhos do homem!
Em vosso convívio inefável com Maria,
Que em vossa humanidade Vos delicia,
Já saboreais as doces e afáveis primícias
Do vosso indizível convívio com os Santos
Que os filhos dos homens Vos darão tantos!
Nas intimidades dessas primeiras carícias
Encontrais, deveras, o que faz vossas delícias!
Ele próprio A criou no Espírito Santo
E A representou maravilhosamente
Em todas as suas obras, certamente
Para, neste olhar, ser Ela vosso encanto!
Dizem que Deus Pai, ao criar Maria,
Esgotou sua inesgotável imaginação.
Ao excogitar a Mãe de vossa dileção,
Teria esgotado também sua fantasia!
É em vossa humanidade, unida à divindade
Na mais perfeita e sublime intimidade
De vossa natureza humana com a divina,
Que essa indizível convivência se sublima!
Sois homem, sem prejuízo da divindade,
Sois Deus, sem prejuízo da humanidade!
Este sois Vós, ó glorioso Cristo Jesus!
Verdadeiro homem, podeis morrer na Cruz,
Verdadeiro Deus, podeis retomar a vida
E proclamar a inocência redimida!
Um Deus assume a miséria humana
Em tão íntima e profunda união
Que, ao assumir, redime a miséria e sana!
Quisestes nascer de nossa descendência,
Para elevar-nos à inexprimível condição
De pertencermos à vossa divina ascendência!
Nosso gáudio é o do prisioneiro indultado;
Nossa alegria é a do doente incurável, curado!
Nossa gratidão é cantar vossos louvores,
Como outrora cantaram anjos e pastores!
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2004, n. 36, p. 50-51)
Tags:
|
2 |
2dez |
Ele veio para todos…
|
Sábios e iletrados, ricos e pobres, reis e pastores têm seu lugar de dileção aos pés do Menino Jesus.
Clara Maria Morazzani
Quem se aproxima, em espírito, da manjedoura na Gruta de Belém, encontra um Menino tenro, mas cheio de vida e de luz. Contemplando-O com os olhos da fé, fica-se abismado ao considerar que ali está o próprio Deus feito homem. Sim, esse mesmo Menino mais tarde estará curando leprosos, devolvendo a vista a cegos, fazendo andar paralíticos, ressuscitando mortos ou acalmando tempestades. No final de sua vida, Ele será desprezado pelas multidões, injuriado, flagelado e pregado numa cruz. Mas ressuscitará ao terceiro dia de forma gloriosa, subirá aos céus e se sentará à direita do Pai como rei triunfante supremo. É assim que Ele deverá vir, pela segunda vez, no dia do Juízo Final, para julgar os vivos e os mortos.
Veio para os pobres…
Em sua primeira vinda, quis Jesus manifestar-Se aos homens revestido de nossa fraqueza, como débil e indefesa criança, padecendo fome, sede, frio e em tudo se assemelhando à nossa humana condição.
Junto ao presépio, encontraremos os pastores. Homens rudes e humildes, ocupados apenas na guarda noturna de seus rebanhos, viram-se, de repente, circundados por uma claridade divina que os encheu de grande temor. Mas logo, animados pelas tranqüilizadoras palavras do anjo, correram para aquela feliz gruta onde, com grande reverência, aproximaram-se para adorar o Menino envolto em pobres panos e reclinado sobre míseras palhas.
… e para os ricos
Erroneamente, porém, poderia alguém pensar ter Ele vindo só para os simples pastores e as pessoas menos abastadas. Para desfazer essa idéia por demais simplificada e unilateral, bastaria permanecer mais alguns dias junto ao Menino e ser surpreendido por um séqüito real cheio de cores, pompa e majestade.
De onde procedia aquela longa, misteriosa e rica caravana, composta de guerreiros fortes e audazes, de pajens vestidos de seda, avançando ao som de trombetas e ao rufar compassado dos tambores? O que significava essa “inundação de camelos e dromedários” (Is 60, 6) carregados de riquezas, previstos com tanta antecedência pelo profeta Isaías? Quem seriam esses três soberanos à procura do “Rei dos judeus que acabava de nascer”? (Mt 2, 2).
Chamavam-se Melquior, Gaspar e Baltazar e, segundo a tradição, representavam as três raças da família humana. O Evangelho nos conta serem eles provenientes do longínquo e enigmático Oriente, tendo viajado até a Judéia guiados por uma estrela.
E aqui nos aparece o primeiro traço do extraordinário chamado que lhes foi feito. Aos pastores se manifesta visivelmente um anjo de luz, revelando por palavras a grande alegria do nascimento do Salvador. Àqueles reis, porém, essa mesma notícia é comunicada pelo aparecimento de uma maravilhosa estrela acompanhada de uma voz interior a tocar suas almas. Assim no-lo explica São Tomás, citando o grande Papa Leão: “Além da imagem que estimulou o olhar corporal, o raio ainda mais luminoso da verdade instruiu até o fundo os seus corações no que concernia à iluminação da fé” (1).
Fé levada até o heroísmo
Bem se poderia aplicar neste caso o famoso ditado francês: noblesse oblige (a nobreza impõe obrigações). Daqueles Magos, até então mergulhados nas trevas do paganismo, a Providência exigiu um heroísmo de fé que não foi pedido aos pastores, herdeiros das promessas messiânicas do povo eleito. Quanto drama havia naquela viagem! Alertados pelo súbito fulgor de uma estrela, os Reis Magos abandonam sem hesitação a calma e o conforto de seus palácios para lançar-se em longa viagem cheia de fadigas e perigos, através de desertos e montanhas…
E tanto esforço, para quê? Para ir prostrar-se em adoração diante de um menino recém-nascido! A extrema pobreza na qual Se lhes apresentou Aquele a quem buscavam com santo afã, em nada abalou a sobrenatural certeza vincada em seus corações, de ser Ele o Rei dos reis. Afirma o Doutor Angélico: “Deve-se dizer como Crisóstomo diz: ‘Se os Magos tivessem vindo procurar um rei terrestre, teriam ficado decepcionados, por terem enfrentado sem motivo as dificuldades de um caminho tão longo’. E assim, nem O teriam adorado, nem Lhe teriam oferecido presentes. ‘Mas, porque procuravam o Rei do Céu, mesmo não vendo n’Ele nada da majestade real, O adoraram satisfeitos unicamente com o testemunho da estrela’. Viram um homem e nele reconheceram Deus. E ofereceram presentes adequados à dignidade de Cristo: ‘Ouro, como a um grande rei; incenso, utilizado nos sacrifícios divinos, como a Deus; e mirra, com a qual são embalsamados os corpos dos mortos, indicando que iria morrer pela salvação de todos'” (2).
Deste modo, os três Reis nos ensinaram quais os presentes mais agradáveis ao Menino-Deus, por ocasião da festa da Epifania: o ouro fino e puro das boas obras, praticadas com desinteresse e pureza de intenção; o incenso perfumado das orações feitas com sincera piedade e devoção; e a mirra dos sofrimentos e sacrifícios suportados ao longo de nossa vida com verdadeiro amor e alegre resignação.
Jesus está à espera de todos nós
Apresentemos, então, com os Magos, nossas modestas ofertas aos pés do berço onde dorme sereno o pequeno Rei vindo para nos redimir. Ele está à espera de todos nós, de todos os homens de boa vontade que queiram seguir seus passos. Esta é a lição que nos deu já no começo de sua existência terrena: “A salvação que Cristo iria trazer concernia a todo tipo de homens, pois, como diz a Carta aos Colossenses: ‘Em Cristo não há mais homem e mulher, grego e judeu, escravo e homem livre’, e assim quanto às outras diferenças. E para que isto estivesse prefigurado no próprio nascimento de Cristo, Ele se manifestou a homens de todas as condições. Pois, como diz Agostinho: ‘Os pastores eram israelitas, os magos pagãos; aqueles estavam perto, estes longe; uns e outros se encontraram na pedra angular’. Havia ainda entre eles outro tipo de diversidade: Os magos eram sábios e poderosos, os pastores, ignorantes e de condição humilde” (3).
E São Leão Magno exclama: “Que todos os povos representados pelos três Magos adorem o Criador do universo; e Deus não seja conhecido apenas na Judéia mas no mundo inteiro, a fim de que por toda parte ‘o seu nome seja grande em Israel!’ (Sl 75, 2)” (4).
Se contemplarmos Jesus com olhar admirativo e cheio de fé, veremos que esse é o Menino dos contrários harmônicos. Ele veio para todos: pobres humildes, reis majestosos. Ele está à disposição de toda e qualquer classe social, de toda e qualquer cultura, de toda e qualquer raça. Ele veio para salvar a todos.
1) Suma Teológica III, q. 36, a. 5.
2) Idem, III, q. 36, a. 8.
3) Idem, III, q. 36, a. 3.
4) São Leão Magno, Sermo 3 in Epiphania Domini.
(Revista Arautos do Evangelho, Janeiro/2006, n. 49, p. 38-39)
Tags:
|
0 |
2dez |
O doce Menino Jesus de Belém
|
Uma pequenina imagem encontrada na rocha passa a exercer grande atração sobre o povo fiel.
Javier Pérez Beltrán
Era véspera de Natal, por volta do ano 1950. Piedosas irmãs Carmelitas de São José, sob a orientação de sua superiora geral, Madre Paula do Divino Salvador, percorriam as residências na cidade de Izalco, em El Salvador. As boas freiras visitavam os presépios domésticos, cantando e rezando, para estimular os fiéis a receber com alegria o nascimento do Redentor.
Em um desses lares, muito pobre, chamou-lhes a atenção uma diminuta imagem do Menino Deus. Parecia esculpido em madrepérola, uma massa de origem coralina que se forma no fundo do mar. Não tinha grandes pretensões artísticas, mas sem dúvida despertava a atenção. Era realmente muito pequenino, e ao mesmo tempo encantador!
A família que o possuía narrou-lhes sua história. A imagem havia sido encontrada pelo filho nas rochas da praia de El Flor, em Acajutla, quando seu pai se encontrava pescando no mar. O jovem a guardou como seu maior tesouro, e todos os anos era por eles colocada no presépio, por ocasião do Natal.
Examinando-a de perto, as freiras ficaram encantadas com a imagenzinha. Após alguns rogos e súplicas, a família as autorizou a levá-la para a capela de seu convento, na cidade de Santa Tecla.
Ali, o Doce Menino Jesus de Belém – como se tornou conhecida a minúscula imagem – passou a exercer uma grande atração sobre o povo fiel. Ao longo dos anos a devoção se intensificou e o número de visitantes cresceu. Após minucioso exame, seu culto foi aprovado por Dom Luis Chávez y González, terceiro Arcebispo de San Salvador.
Quem visita hoje a capela do Colégio Belém, em Santa Tecla, pode encontrar o pequeno Menino Jesus, reclinado sobre um pitoresco arranjo, numa concha de ostra que lembra a origem de sua descoberta.
Àqueles que o visitam, o Menino Deus parece repetir estas palavras do Evangelho: “Em verdade vos digo, todo aquele que não receber o reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará” (Mc 10, 15).
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2008, n. 84, p. 36)
Tags:
|
0 |
2dez |
Sinal da vida que não perece
|
A árvore de Natal sempre aponta para o céu, e sua ramagem perpetuamente verde lembra-nos Aquele que nos concedeu a vida eterna.
Mónica Perezcanto Sagone
A história da festiva árvore começa nas densas florestas da Germânia, no século VIII.
O grande São Bonifácio, bispo e apóstolo daquelas terras, havia então trazido um bom número de tribos pagãs ao rebanho de Jesus Cristo. Mas seu labor não era fácil. Por vezes, os conversos, cuja fé ainda era vacilante, recaíam nos perversos costumes de seus antepassados.
Em certa ocasião, Bonifácio teve de realizar uma longa viagem a Roma, onde fora pedir conselho ao Papa Gregório II. Meses depois, ao retornar à região do Baixo Hesse, com horror surpreendeu alguns nativos que estavam a ponto de realizar um dos holocaustos humanos exigidos pela religião primitiva. Libertando nove meninos que seriam vítimas, o zeloso bispo quis, então, dar um público testemunho de quão impotentes eram os falsos deuses diante do Cordeiro de Deus.
Mandou abater o enorme carvalho de Thor, sob o qual se realizaria o sangrento sacrifício. Os sacerdotes pagãos o ameaçaram de ser fulminado pelos raios do deus do trovão. No entanto, derrubada a árvore, nada aconteceu, para humilhação dos gentios.
Os relapsos se arrependeram, então, e muitos idólatras pediram o sacramento do batismo. A queda da árvore de Thor representou a queda do paganismo naquelas regiões.
Os germanos, já então pacificados e convertidos, adotaram o pinheirinho como um símbolo cristão. Ele sempre aponta para o céu, e sua ramagem eternamente verde lembranos Aquele que nos concedeu a vida eterna. Sob seus galhos já não há ofertas cruéis, mas sim os presentes em honra de Cristo recém-nascido.
Anos e anos mais tarde, a árvore de Natal transpôs as fronteiras da Alemanha. Nos séculos XVIII e XIX, tornou-se comum entre a nobreza européia, alcançando as cortes da Áustria, França e Inglaterra, até a longínqua Rússia. Dos palácios difundiu-se pelo povo da Europa e, por fim, nos dias de hoje, a encontramos espalhada por todo o orbe.
No centro da cristandade, em plena Praça de São Pedro, todos os anos, é erguida uma árvore de grandes proporções, elegantemente ornada, segundo é próprio à dignidade do local.
Tocado pela sua beleza e simbolismo, o saudoso Papa João Paulo II a ela se referiu, em dezembro de 2004:
“A festa do Natal, talvez a mais querida à tradição popular, é extremamente rica de símbolos, ligados às diferentes culturas. Entre todos, o mais importante é, sem dúvida, o presépio […].
Ao lado deste, como nesta Praça de São Pedro, encontramos a tradicional ‘árvore de Natal’. Também esta é uma antiga tradição, que exalta o valor da vida porque na estação invernal, a árvore sempre verde se torna um sinal da vida que não perece. Geralmente, na árvore adornada e aos pés da mesma são colocados os dons de Natal.
Assim, o símbolo torna-se eloqüente também em sentido tipicamente cristão: evoca à mente a ‘árvore da vida’ (cf. Gn 2, 9), figura de Cristo, supremo dom de Deus à humanidade.
Por conseguinte, a mensagem da árvore de Natal é que a vida permanece ‘sempre verde’, se ela se torna dom: não tanto de coisas materiais, mas de si mesmo: na amizade e no carinho sincero, na ajuda fraterna e no perdão, no tempo compartilhado e na escuta recíproca.
Que Maria nos ajude a viver o Natal como uma ocasião para saborear a alegria de nos doarmos a nós mesmos aos irmãos, especialmente aos mais necessitados”
(João Paulo II, Ângelus, 19/12/2004)
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2007, n. 72, p. 50-51)
Tags:
|
1 |
2dez |
Lux in tenebris lucet
|
EVANGELHO:
1 Naqueles dias, saiu um edito de César Augusto, prescrevendo o recenseamento de toda a terra. 2 Este recenseamento foi anterior ao que se realizou quando Quirino era governador da Síria. 3 Iam todos recensear-se, cada um à sua cidade. 4 José foi também da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, que se chamava Belém, porque era da casa e família de Davi, 5 para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz, 7 e deu à luz o seu filho primogênito, e O enfaixou, e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. 8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor. 10 Porém, o anjo disse-lhes: “Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”. 13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens, objeto da boa vontade de Deus” (Lc 2, 1-14).
A mais fulgurante das luzes brilha nas trevas e oferece à humanidade a verdadeira paz, sobretudo em nossa era crivada de guerras, catástrofes e ameaças. Junto a Maria, a José e aos pastores, no Presépio, adoremos o Menino-Deus, o Príncipe da Paz.
Mons. João Clá Dias, EP
I – Cristo, o centro da História
Vivemos no ano de 2006 e ninguém levanta a menor dúvida a este propósito, pois assim foi estabelecido, por consenso universal, o critério para elaborar o nosso calendário. Só esse fato seria, de si, suficiente para comprovar que há dois milênios e seis anos, numa gruta em Belém, nasceu o Menino-Deus com a missão de salvar o mundo. Essa é uma das provas da grande importância que todos os povos, crentes ou não-crentes, atribuíram ao acontecimento que acabou por dividir a História em dois grandes períodos: antes e depois de Cristo. Não tardaram muitos séculos para que urbi et orbe, três vezes ao dia, os sinos das igrejas ecoassem a fim de recordar e alçar seus louvores aos Céus pela Encarnação do Verbo; o Ângelus passou a ser uma devoção universal. A emoção e o júbilo pervadiram a terra e, ao longo dos tempos, na celebração do Natal, sempre ressoaram os cantos litúrgicos e as canções destinadas a manifestar a mesma alegria de há mais de vinte séculos: “Hodie Christus natus est” (1).
“Uma luz resplandece nas trevas” (Jo 1, 5): “Christus natus est nobis“, foi para nós que Ele nasceu, para a humanidade de todas as épocas, até o Juízo Final. O glorioso nascimento do Menino Jesus constitui uma inesgotável fonte de salvação. E, invariavelmente – sobretudo neste ano tão atravessado por ameaças de guerras, convulsões e terrores – o convite que nesta festividade é feito aos homens vem carregado de promessas. Junto ao Divino Infante pode-se encontrar a verdadeira paz, como ocorreu com os pastores e os Reis Magos. Movidos por um sopro do Espírito Santo, abandonaram seus afazeres e puseramse a caminho em busca da Paz Absoluta, para adorá-La. Esse mesmo convite nos é dirigido a nós na noite de hoje: “Venite adoremus”, pois “a graça de Deus, nosso Salvador, apareceu a todos os homens. (…) Manifestou-se a bondade de Deus nosso Salvador e o seu amor pelos homens” (Tt 2, 11; 3, 4).
II – Viagem de José e Maria a Belém
O recenseamento
1 Naqueles dias, saiu um edito de César Augusto, prescrevendo o recenseamento de toda a terra. 2 Este recenseamento foi anterior ao que se realizou quando Quirino era governador da Síria. 3 Iam todos recensear-se, cada um à sua cidade.
Não há uma só palavra ou um só gesto relacionado com a vida de Jesus que não contenha vários e altíssimos significados. Por isso multiplicam- se ao longo dos séculos comentários e interpretações sobre as narrativas evangélicas. Neste primeiro versículo encontramos um exemplo interessante sobre esse particular.
São Tomás de Aquino, por exemplo, assim se manifesta:
Cristo veio para nos reconduzir do estado de escravidão ao estado de liberdade. Por isso diz Beda que, assim como assumiu nossa condição mortal para nos conduzir à vida, assim ‘dignou- Se encarnar num tempo em que, apenas nascido, seria registrado no censo de César, e, por nossa libertação, se submeteu Ele mesmo à escravidão'” (2).
Além dos aspectos teológicos relacionados com o recenseamento, podemos considerar razões concretas, de ordem geográfica e sociológica, que tornam mais clara a providencialidade da escolha da época para nascer o Messias.
Naquele tempo, o local de nascimento do fundador da estirpe era de fundamental importância para se determinar as origens de uma família. Mesmo após ter-se desdobrado em inúmeros ramos que iam estabelecer-se em outros lugares, às vezes longínquos, essas novas colméias humanas guardavam um estreito relacionamento com suas nascentes geográficas. Esse costume era sobremaneira observado pelo povo judeu, e dele se serviram os romanos para fazerem cumprir o edito de César Augusto, a fim de levar a cabo um exato recenseamento do povo. Daí o fato de José ver-se na contingência de apresentar-se diante das autoridades, na “cidade de Davi, que se chamava Belém”. Por isso, a Sagrada Família deveria empreender uma viagem de três ou quatro dias, de Nazaré a Belém (cerca de 140 km), tempo gasto pelas caravanas da época. Aliás, Belém ficava no carrefour das rotas de caravanas com destino ao Egito, sendo um lugar de repouso dos viajantes.
Por que Maria fez a viagem com José
4 José foi também da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi, que se chamava Belém, porque era da casa e família de Davi, 5 para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida.
O fato de São Lucas mencionar o estado de gravidez no qual se encontrava Maria Santíssima propicia comentários e hipóteses. Como só José tinha a obrigação de apresentar-se em Belém, por que também Maria teria empreendido essa viagem na companhia dele?
Segundo alguns autores, talvez ambos tivessem planejado sua definitiva mudança para a cidade-berço da estirpe do Rei Profeta. Tanto mais que, na Anunciação feita por São Gabriel, constava que Deus daria ao Menino o trono de seu pai Davi.
Além disso – argumentam esses autores – havia vários séculos, o profeta Miquéias fizera referência à cidade de Belém como o local de procedência d’Aquele que governaria o povo judeu (cf. Mq 5,1).
Por outro lado, é também possível que José não quisesse deixar Maria a sós naquelas circunstâncias, sobretudo se considerarmos a grande santidade desse varão que seria o pai legal e tutor do Filho de Deus. José, certamente, queria adorá-Lo o quanto antes e logo no primeiro instante.
Quiçá todas as hipóteses se conjuguem e tenham cabimento. Seja como for, o deslocamento deve ter sido muito fatigante para a Santíssima Virgem, já tão próxima dos últimos momentos da gestação. Os caminhos, além de tortuosos e mal-acabados, estavam ingurgitados pelo fluxo do trânsito dos convocados pelo recenseamento. Asnos e camelos circulavam num e noutro sentido em número acima do costumeiro. Além disso, Belém se situa 10 km ao sul de Jerusalém, a mais de 700 metros de altitude sobre o Mediterrâneo e a quase 1200 metros acima do nível do Mar Morto; portanto, uma e outra cidade se encontram em altitudes bem semelhantes. Era a última região habitável rumo ao Mar Morto. Assim, íngremes foram os derradeiros trechos de estrada percorridos para chegar em Jerusalém e pernoitarem em Belém.
Talvez se julgue que, pela imensa consolação de se tornar mãe daí a pouco, não sentisse a Santíssima Virgem as agruras de tão penoso percurso. Mas até isso Lhe foi exigido, para tornar mais meritória sua participação na obra redentora de seu Divino Filho. E a esse incômodo, outro mais se acrescentaria: os “hotéis” daqueles tempos. As condições de hospedagem nem de longe se assemelhavam às de hoje, sob os mais variados aspectos. Os viajantes ocupavam divisões contíguas, debaixo de caramanchões – sem teto, portanto – ou, os que possuíam mais recursos, cubículos cobertos. Estes e aqueles se localizavam ao longo de um muro alto que cercava um pátio amplo, no qual os hóspedes deixavam os respectivos animais. Uma única porta dava acesso ao interior da hospedagem. Nas noites de superlotação, não era raro encontrar pessoas acampadas nesse pátio. Tal convívio entre homens, em meio aos animais, era alimentado por comes e bebes, alegrado por cantorias, falatórios e até mesmo discussões. Não era alheio a esse ambiente um indescritível prosaísmo, comum naqueles tempos.
Em nada era estranha aos judeus a agitação que se criou por ocasião do recenseamento, pois o ambiente era o mesmo ao longo das celebrações da Páscoa. Ainda não havia o recato que o Preciosíssimo Sangue do Redentor introduziu depois na Civilização Cristã. Tudo se fazia sem reservas: ali se podia nascer ou morrer, adoecer ou curar-se, dormir ou agitar-se, etc., à vista de todos. Esse é o verdadeiro sentido da afirmação de São Lucas: “porque não havia lugar para eles na hospedaria”. Não tanto porque esta estivesse lotada, mas por não Lhes ser adequada.
Belém, a cidade escolhida
E por que Belém?
O nome da cidade é de origem hebraica: “Bet-lehem“, ou seja, “casa do pão”, porque essa localidade era muito fértil. Quem, misticamente, cantou as glórias de Belém foi Santa Paula, no ano de 383: “Saúdo-te, ó Belém, casa do pão, onde o pão descido do Céu viu a luz da terra! Saúdo-te, ó Efratá, campo riquíssimo e fértil, que entre os teus frutos trouxeste o próprio Deus!” (3).
São Tomás de Aquino nos ensina algumas das razões pelas quais Jesus escolheu Belém para nascer e Jerusalém para morrer:
“Davi nasceu em Belém, mas escolheu Jerusalém para estabelecer nela a sede de seu Reino e ali edificar o templo de Deus.
Assim, Jerusalém viria a ser ao mesmo tempo a cidade real e sacerdotal. Mas o sacerdócio de Cristo e o seu reino se realizariam principalmente em sua Paixão. Por isso era conveniente que, para nascer, escolhesse Belém, e para a Paixão, Jerusalém. (…)
“Como diz São Gregório, Belém quer dizer ‘casa do pão’. E o próprio Cristo afirma: ‘Eu sou o pão vivo, que desceu do Céu’. (…) Além disso, contrariava a vanglória dos homens que se orgulham de ter nascido em cidades famosas, nas quais querem principalmente ser honrados. Cristo, pelo contrário, quis nascer numa cidade obscura e padecer opróbrios numa cidade famosa” (4).
Historicamente, Belém tem um passado rico em densidade e simbologia. Ali foi enterrada Raquel, esposa de Jacó (cf. Gn 35, 16-19), e até hoje se pode visitar seu túmulo. Na divisão do território de Israel, efetuada por Josué, Belém coube à tribo de Judá, na qual nasceu Davi. Porém, depois do nascimento de Jesus, ela se eclipsa. Os Evangelhos não mais a mencionam, e, assim, ela fica com os resplendores dos primeiros olhares do Salvador, logo ao vir a este mundo. Só no século II, São Justino e Orígenes, além de alguns outros escritores, fazem reviver as glórias dessa cidade.
III – Nasce o Salvador
História da Gruta
6 Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz, 7 e deu à luz o seu filho primogênito, e O enfaixou, e O reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Como o próprio São Lucas declara, “não havia lugar para eles na hospedaria“, ou seja, José viajou a Belém na esperança de encontrar uma hospedagem à altura do grande acontecimento que ali se passaria. A Beata Ana Catarina Emmerick descreve com piedosa riqueza as várias e frustradas tentativas de José, no reencontro com suas antigas amizades, de achar um local para ali repousarem. Depois de lhe rolarem amargas lágrimas pelo rosto, lembrou-se de um refúgio distante da cidade, freqüentado por ele mesmo em sua juventude para escapar de seus perseguidores e aproveitar para rezar. Após propor à Santíssima Virgem essa solução, para lá se dirigiram. Segundo a vidente – que descreve em minúcias tanto o exterior quanto o interior da Gruta -, ali nascera Set, terceiro filho de Adão, o qual, de acordo com a promessa de um Anjo a Eva, tomaria o lugar de Abel. Outros fatos simbólicos, relacionados com Abraão, também haviam se passado nesse mesmo lugar.
Por fim, já bem instalados, Maria sugeriu a José rezarem juntos por todos aqueles que haviam se negado a recebê-los, e lhe comunicou a hora do nascimento, pedindo-lhe que preparasse bem a manjedoura para poder honrar e adorar o Menino, tão logo Ele entrasse neste mundo.
O Céu se uniu à terra
Depois de alguns instantes, passados fora, José retornou à Gruta, encontrando- a como que em chamas, de tanta luz. Imediatamente prostrou- se com o rosto em terra. Essa luz que envolvia a Santíssima Virgem foi crescendo de intensidade e, à meia-noite, após Ela entrar em êxtase e levitação, e estando a própria natureza dos arredores como que em grande júbilo, nasceu o Salvador. Ao ter-Se movido o Menino, fazendo ouvir seus primeiros vagidos, Maria “envolveu-O em panos e recostou- O no Presépio”. Os céus desceram à terra para adorá-Lo, enquanto a Virgem, resguardando-O em seu amplo manto, O amamentava. Passada uma hora, Maria chamou José, o qual ainda estava prosternado em oração. Júbilo, humildade e fervor, são as qualidades com que a vidente Ana Catarina descreve o estado de alma de José, ao receber o Menino nos braços, banhando-se em lágrimas de alegria. O recém-nascido era “brilhante como um relâmpago”, segundo sua expressão.
A esta altura do presente artigo, vem-me o ardente desejo – talvez por neste momento eu me encontrar numa capela, bem próximo de Jesus- Hóstia, exposto à adoração – de dirigir às almas que lêem este relato o que São Paulo implora ao Pai, para os Efésios: “Que Cristo [Menino] habite pela fé em vossos corações, arraigados e consolidados na caridade, a fim de que possais, com todos os cristãos, compreender qual seja a largura, o comprimento, a altura e a profundidade, isto é, conhecer a caridade de Cristo, que desafia todo o conhecimento, e sejais cheios de toda a plenitude de Deus” (Ef 3, 17-19).
O Natal na Liturgia
Assistimos liturgicamente, nesta noite, ao nascimento de Cristo, que se deu no tempo, pois, por sua natureza divina, já fora gerado desde toda a eternidade, como afirma São Tomás de Aquino: “Cristo tem duas naturezas: a divina e a humana. A primeira, recebeu- a do Pai desde toda a eternidade; e a outra, recebeu-a da Mãe, no tempo. É, pois, necessário atribuir a Cristo dois nascimentos: o do Pai, desde a eternidade, e o da Mãe, no tempo” (5).
“E o Verbo Se fez carne …” (Jo 1, 14). A Segunda Pessoa da Santíssima Trindade está entre nós. Esse acontecimento único e insuperável refulge em toda a História e, apesar de terse dado há mais de dois mil anos, é atualíssimo. Deus quis fazer-Se sensível e visível e, ainda hoje, como se dará até o fim dos tempos, podemos ter contato com esses esplendores da Encarnação através dos Sacramentos. Diariamente, sobre os nossos altares, o Verbo Se faz carne. Por essa razão, a Missa do Galo, para nós, tem um significado todo especial. Que o Espírito Santo nos abrase o coração para aproveitarmos todas as graças e dons trazidos pelo Menino-Deus, em sua vinda à luz, nesta noite.
IV – Adoração dos pastores
8 Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. 9 Apareceu-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu com a sua luz e tiveram grande temor.
Também Davi havia sido pastor de ovelhas, e naquela gruta estavam três de seus descendentes, sendo um deles o Filho do Altíssimo. A corte celeste já rendera culto e homenagem ao Menino. Nascido com nossa natureza, digno e justo era que também de nossa sociedade recebesse Ele adoração.
Uma categoria social desprezada
Os pastores constituíam uma comunidade desprezada pelos fariseus. No caso concreto de Belém, trbalhavam eles nos confins da região, onde o cultivo das plantações já não interessava e as terras estavam abandonadas e incultas. Ali permaneciam os rebanhos mais numerosos, fosse inverno ou verão, vigiados por alguns homens. Os habitantes do povoado guardavam seus animais nos estábulos dos arredores. A péssima reputação dos pastores entre os fariseus provinha de várias razões. Percebese, de imediato, que as funções por eles exercidas não se coadunavam muito com as inúmeras abluções, lavar de mãos, purificação de vasilhas, seleção de alimentos, etc., às quais os fariseus davam tanta importância. Mas, sobretudo, eram eles homens de bom senso e mais dados à contemplação. O contato permanente com a natureza saída das mãos de Deus, na calma e tranqüilidade do isolamento do campo, lhes enriquecia a alma de pensamentos elevados, conduzindoos à elaboração de critérios sólidos, difíceis de serem destruídos pela ilogicidade caprichosa dos fariseus.
Eis, em poucas palavras, os motivos pelos quais os pastores eram excluídos dos pleitos judiciais dos fariseus, não eram aceitos como testemunhas, e nem sequer podiam entrar em seus tribunais.
Separando dos incrédulos os que têm fé
Assim, já ao nascer, o Menino-Deus iniciou sua missão de pedra de escândalo, deixando de lado os que não crêem. Herodes ouviria dos lábios dos Reis Magos o anúncio do grande milagre; aqueles que recusaram pousada aos pais do Menino, e os próprios fariseus, com sua pérfida pertinácia, também rejeitariam os milagres de Jesus. Todos esses não creram. Os Anjos buscaram os pastores por terem estes uma robusta virtude da fé, toda feita de obediência. Não era fácil crer num Messias nascido em plena pobreza, num estábulo, entre um boi e um burro. Os pastores, entretanto, foram escolhidos por Deus, não por sua simplicidade de vida e de costumes, nem sequer pela sua pouca capacidade financeira – pois muitos outros havia em Israel mais pobres e simples do que eles -, mas porque estavam predispostos a crer.
Sem embargo, os pastores “tiveram grande temor”. Herodes também temeria, da mesma forma que, mais tarde, os escribas, os fariseus e o Sinédrio. São muito diferentes todos esses temores. A aparição de um Anjo, para os judeus, vinha sempre acompanhada da idéia de perecimento imediato. Mas neste caso, além do mais, dava-se a manifestação da glória de Deus, e o natural efeito de sua grandeza é o temor, seguido de admiração ou de ódio, nunca de indiferença.
Por isso uns irão correndo à Gruta para adorá-Lo e outros quererão matá-Lo.
10 Porém, o anjo disse-lhes: “Não temais, porque vos anuncio uma boa nova, que será de grande alegria para todo o povo: 11 Nasceu-vos hoje na cidade de Davi um Salvador, que é o Cristo, o Senhor. 12 Eis o que vos servirá de sinal: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
O anúncio do Anjo se inicia por uma determinação: “Não temais!” Estas palavras evidentemente diziam respeito à sua própria aparição, mas bem poderiam constituir um letreiro a ser colocado sobre a manjedoura onde repousa o Menino-Deus. Sim, porque, apesar da fragilidade de um recém-nascido, ali se encontram a Grandeza infinita de Deus, a Verdade, a Justiça e a Bondade. Por nossa natureza defectiva e por sermos pecadores, temos medo da Justiça e, assim como a luz muito brilhante pode ferir os olhos enfermos, treme nossa maldade diante da Grandeza de Deus.
Daí ter o Anjo recomendado com tom imperativo que não temessem, e logo a seguir lhes falado de uma “grande alegria”. De fato, impossível alegria maior. Aquele Messias que tanto fora objeto de suas longas conversas, como também de suas inúmeras contemplações, havia nascido. Apesar de sua formação tosca, estavam os pastores isentos do dogmatismo obliterado dos fariseus; com a fé inocente de camponeses que eram, cheios da graça do Espírito Santo, imediatamente acreditaram na angélica mensagem.
Encontrarem o local não constituía problema para eles, pois todos os estábulos já lhes eram muito conhecidos. Nas noites de muito frio, ou chuva, buscavam refúgio nessa ou naquela gruta. O Anjo lhes dá o sinal indicativo: “Um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura”.
V – O cântico dos anjos
13 E subitamente apareceu com o anjo uma multidão da milícia celeste louvando a Deus e dizendo: 14 “Glória a Deus no mais alto dos Céus, e paz na terra aos homens, objecto da boa vontade de Deus “.
Fixemos nossa atenção nestas palavras: “multidão da milícia celeste (…) glória a Deus“.
Glória a Deus nas alturas…
Sim, a maior glória que a humanidade e os próprios Céus poderiam dar a Deus realizou-se no grandioso nascimento do Senhor. Toda a criação – nela incluída a Santíssima Virgem – reunida num só coro, jamais prestaria a Deus o louvor que se elevou do Menino Jesus em seu nascimento. Antes de este ter-se dado, os cânticos de todos os seres eram débeis e sem eco. Com a vinda de Cristo, causa meritória e eficiente de nossa divinização, toda a obra da criação atingiu um patamar inimaginável. E tornando-Se Jesus centro e modelo, não apenas o cântico passou a ser outro, como Ele também começou a cooperar na infinita glorificação que o Pai deseja Lhe seja tributada. A humanidade adquiriu como cabeça e sacerdote o próprio Cristo, que só por seu nome dá toda glória a Deus.
Aquele Menino na manjedoura, desde seu primeiro momento e ao longo de sua vida, em suas palavras, obras e sofrimentos, nada quis mais do que ser instrumento para servir, louvar e glorificar a Deus.
Tanto mais nobre será o homem, quanto mais se considerar criatura de Deus e deste princípio tirar todas as conseqüências, conferindo à sua vida uma inteira ordenação. Daí nascerão as mais belas virtudes. Ora, vindo esta noite ao mundo, o Menino, desde seu abrir de olhos, sempre foi submisso a Deus, na completa justiça, eqüidade e perfeição.
Até mesmo sem levar em conta o caráter expiatório de sua Encarnação, já é insuperável a glória que se elevou a Deus, partindo daquela gruta em Belém.
Paz na terra…
Em harmonia com essa “Glória a Deus nas alturas”, o Menino veio trazer a paz aos homens. Sim, Ele nos reconciliou com Deus, ensinou-nos a bem conhecer e amar o Pai, assim como nossos irmãos, e, morrendo por todos e cada um, convidou-nos à santidade. O nosso fim último tornou-se claramente explícito, como também ficou indicado qual deve ser o nosso governo sobre nós mesmos e sobre as criaturas.
Mais uma vez, aproximemo-nos do Presépio e adoremos o Menino, Príncipe da Paz, e ouçamos a voz de Isaías: “Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a felicidade, que traz as boas novas e anuncia a libertação, que diz a Sião: Teu Deus reina!” (Is 52,7). Ele, o autor da graça santificante, sem a qual “não pode haver verdadeira paz, mas somente uma paz aparente” (6).
Eis o convite essencial para o mundo de hoje tomado pelas guerras, catástrofes e ameaças: ajoelhe-se e, juntamente com Maria, José e os pastores, ouça a saudação de São Paulo: “O Senhor da paz, Ele próprio, vos dê a paz, sempre e em todos os lugares” (2 Ts 3, 16).²
1) Hoje nasceu Cristo.
2) Suma Teológica III, q. 35, a. 8, ad 1.
3) Cf. Epitaph Paulae [inter Epist. S.
Hieron., 108, 27] 10. Efratá significa fértil.
4) Suma Teológica III, q. 35, a.7, ad 1.
5) Suma Teologica III, q. 35 a. 2c.
6) São Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 29, a. 3, ad. 1.
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2006, n. 60, p. 10 à 17)
Tags:
|
0 |
27nov |
A mesa de Natal reflexo de alegria e piedade
|
O arranjo da mesa natalina exige um especial esmero e imaginação. Aproveite a ocasião para usar cores em profusão, pois o Natal é, por excelência, uma festa colorida.
A combinação de elementos simples pode dar um elevado toque de esplendor: fitas vermelhas, douradas ou verdes, pinhas e galhos de pinheiro, velas, bolas de cristal colorido ou flores de bico de papagaio, e um pequeno cartão com o nome de cada pessoa no seu lugar à mesa, cada um iluminado por uma velinha.
Além da mesa, enfeite também a sala, o hall de entrada e outros locais. Uma boa idéia é trocar lâmpadas por velas. Como? Muito simples: guarde as lâmpadas queimadas, retire delas o globo de vidro, coloque velas nas roscas metálicas e troque-as pelas lâmpadas dos lustres. (Na hora de colocá-las é preciso tomar cuidado para evitar choques.) Você obterá assim uma iluminação natalina toda original e muito apropriada para o dia.
O principal objetivo de tanto cuidado com a decoração, procurando em tudo a beleza através da harmonia de cores e adornos, deve ser criar um ambiente que ajude os corações a se elevarem e transmita a todos essa alegria especial que sentimos por sermos filhos de Deus. !
(Revista Arautos do Evangelho, Dez/2002, n. 12, p. 43)
Tags:
|
21 |